segunda-feira, 25 de julho de 2016

Central divino de atendimento - Secção Irmandade dos Anjos.
Humor sobre serviço de atendimento de reclamações do Banco Central -
Ref - reclamação contra Banco Itaú/BMG, empréstimo consignado.

Depois de insistentes demandas junto ao Itaú BMG sem receber solução resolvi, como última instância recorrer ao Banco Central.
Primeiro contato - dia 26/05 parte da tarde atendente Andrea. Fiquei muito bem impressionado pelo respeito e consideração com que fui tratado. Fui informado tambem que o Banco Central faria contato com o Itaú BMG e eu teria que esperar 10 dias para uma resposta.
Passados 8 dias aproximadamente, recebi, por mensagem no celular que o meu processo havia chegado ao fim e pedindo que eu entrasse em contato via tal número de telefone.
Obedecendo a esta informação liguei para o número indicado (ItaúBMG) e para minha surpresa ninguem sabia nada a respeito. Insisti e como continuava sem solução procurei saber como entrar em contato com a ouvidoria. A ouvidoria desse banco é uma piada de mau gosto - não escuta ninguem e muito menos é possível falar com qualquer responsável. Sendo assim, não tive outra alternativa se não ligar de novo para o Banco Central.
Portanto aqui vai o relato desse telefonema:
Segundo contato - referente à mesma reclamação - dia 02/06 parte da tarde, atendente Rogério.
Quero deixar evidente, e isso pode ser comprovado, pois a ligação foi gravada, que logo de início eu pedia desculpas por importunar esta instituição com os meus problemas.
O atendente, muito distante e desinteressado me ouviu até um certo ponto e depois me recreminou dizendo que eu estava errado ao responder ao chamado do ItaúBMG e portanto manter conversações orais, e que o Banco Central só se sensibilizaria se eu tivesse recebido explicações escritas via correio.
Confesso que me irritei um pouco com esta nova informação - me pareceu que o atendente estava me "empurrando com a barriga" e exercendo um verdadeiro ato de "tira da bundismo" explícito.
Tentei em vão argumentar, de novo, o ocorrido e no auge da emoção argumentei que aquele banco (sempre me referindo ao ItaúBMG) tinha uma ouvidoria de "merda".
Nesse momento o Rogério se ouriçou todo dizendo que eu o estava ofendendo e que não estava ali para ouvir desaforos. Com todo o respeito, dou minha palavra, que em momento algum pensei em ofende-lo.
Expliquei isso a ele e entendi que era inútil continuar argumentando - "da onde menos se espera... daí que não sai nada mesmo".
Analisando o motivo dessa  irreal falta de compostura, cheguei a pensar que inadvertivamente e por um desses acasos místicos eu errei o número do Banco Central e a ligação caiu na Central Divina de Reclamações - Secção Irmandade dos anjos - e fui atendido por um Querubim muito sensível e pudico, que não concorda com termos como "merda", esse inofensivo e mais que usual e cotidiana exclamação de contrariedade.
Um exemplo típico é a piada conhecida que narra o momento que o próprio São Pedro montado numa nuvem à porta do céu gritou advertindo a alma sem pecados de uma senhora que subia vertiginosamente em sua direção, em alta velocidade, condizente com a sua pureza angelical, exclamou:
"---Fala merda, pelo menos, si não voce vai entrar em órbita"..
Portanto, convenhamos esta palavra já não ofende ninguem, a não ser o nosso Querubim.
Para terminar informo que contrariando as afirmações do Rogerio, o correio ainda não me entregou nenhuma carta informando, por escrito, a solução do meu problema.

sábado, 23 de julho de 2016

voltando no tempo para configurar melhor o que vou escrever em seguida:
No dia 11/04/2016 realizou-se uma manifestação de intelectuais e artistas a favor do "bom senso"(a mercadoria mais cara do mundo) em defesa da Democracia, contra o golpe.
A propósito lembro que um dos participantes - Chico Buarque de Holanda - foi vítima de uma agressão proporcionada por energúmenos microcéfalos - fascistas, ignorantes políticos.
Acredito que este fato, ao contrário do que se esperava, provocou uma enorme,  maravilhosa e regeneradora reação de nacionalismo, democracia e respeito por esse nosso "paisão" (como diria Darci Ribeiro). Sim este Brasil altivo cujos filhos o respeitam e lutam para que não desista de sua cruzada na busca, sem treguas da igualdade social e de sua procura, às vezes utópica de sedimentar cada vez mais fundo o aprimoramento do "Ser Humano".
Chico, nosso autor maior é um músico e poeta . Pra consubstanciar a importância da música reproduzo abaixo texto do José Miguel Wisnik sobre a filosofia da música:
"Ela nos indica como a  forma musical visa a resolver questões ligadas à relação entre o pensamento e a natureza, a determinação ao estatuto do acaso e da necessidade aos modos de intuição do tempo, entre outros. Como se a filosofia nos lembrasse que a razão sempre encontra na música traços de um caminho que ela mesma construiu".
Chico, sem dúvida, segue essa linha e bastou essa agressão para que, inesperadamente suas músicas voltassem a ser ouvidas e interpretadas como um grito pungente e esperançoso, gerado do fundo da alma de uma massa crítica que quer de volta o Brasil real e seu enorme potencial para crescer e principalmente quer de volta o seu otimismo e a alegria do seu povo.
Dentre as músicas que voltaram a ser lembradas destaca-se uma que reputo emblemática - "Vai Passar". È o novo hino nacional, com todos cantando o seu refrão apropriado para a ocasião - "Vai Passar".
Vai passar o pessimismo, a grita das elites fascistas, das bandeiras pró volta dos militares, o culto a Bolssonaros. Frotas, Loboês e outros idiotas(os idiotas e as baratas são pragas incuráveis).
O Vai Passar contem metaforicamente, nessa versão cantada pelo Chico um sentimento de esperança e otimismo, apostando na volta de um Brasil solidário e unido.
Atrás do interprete ouve-se um batuque apoteótico e agressivo somado a um coro de mulheres que canta com voluntarismo e emoção. Cantam com uma garra e uma vontade avassaladora, própria de quem, cansado de tantas injustiças e convivendo mal com a hipocresia e o mau caratismo dessa plutocracia desonesta, pusilâmine e burra ( tem a cabeça tão vazia que não cabe mais nada dentro), exalta sua indignação nessas letras formidáveis do velho Chico Buarque.
Um coro cujo som sai do fundo do coração, misto de convicção, raiva, rebeldia, inconformismo contra aqueles que não tem olhos de ver.
Vai Passar me fez sair do estupor desse verdadeiro massacre (mídia, oposição) contra o governo transportando-me para a euforia e o otimismo que seguramente todo brasileiro almeja.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS

O Bem Comum -

Estamos vivendo momentos difíceis e preocupantes. Tomo a liberdade de ser um pouco radical para acrescentar momentos de barbárie (terrorismo) e de absoluta incompreensão social (desigualdade, fome, concentração mórbida de capital) etc.
Para tentar consubstanciar e mesmo decifrar todo esse inconformismo e a imprevisibilidade a vincar os hábitos, os humores da humanidade, como entendessem num átimo a irrelevância de suas atitudes e de suas preferências ambiciosas, via acúmulo de capital em detrimento da busca do bem comum , do respeito ao próximo, da generosidade, do convívio fraterno - voltar a ser humano!
Entendi como válido concretizar toda essa apreensão através da consciência da Melancolia, desde que abruptamente, ela preencheu um sentimento indefinível, ou seja, a humanidade espera, receiosa, ou mesmo apavorada por algo ainda vago, mas preocupante.
A consciência da Melancolia despertou de forma metafórica a conclusão desse enigma e sua decifração, consolidando todas as preocupações ainda indefinidas.
Como ela é etérea, volúvel e não exata, resolvi lhe dar um perfil real, a personificando, comparando-a a olhares distintos, ativando e conectando nosso inconsciente coletivo, acervo confiável de nossos anseios, desejos e ilusões.
Texto, tecido, textil.
Oportuna e sábia analogia, que vem nos auxiliar a entender melhor essas analogias.
Texto, tecido, textil, entrelaçamento de fios, preâmbulo para a formatização do real.
Portanto, aqui especificamente, texto é todo objeto portador de mensagem. Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados - os gestos do nosso corpo, as letras do alfabeto, as notas musicais, totens, cidades, filmes, etc.
A esse entrelaçamento de sinais físicos apropriados designamos o elo procurado para reafirmar nossa intenção.
Já a composição de significados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais (semiótica?)
Essa captura é a interpretação que só existe devido aos intérpretes: de pessoas, signos, cidades e/ou filmes - no nosso caso específico, os dois últimos. Elas são manipuladas para relacionar os sinais físicos com um certo código. É preciso decodificar.
Melancolia - ela pode ser traduzida por essa nuvem espessa que paira opressiva e desconcertante, confundindo nossas sentimentos - seria o significante do presságio ainda sem identidade, de algo como tradutora fiel das apreensões humanas ainda ancoradas no indecifrável.
Aqui se pretende exemplificar esta angústia universal, reduzindo-se o olhar, tirando-o do macro e fixando em exemplos mais próximos e significativos.
O pensamento só pode captar esta coisa imaginária porque ela deixa vestígios de sua existência. Entra em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender, saber o que eles significam e estabelecer tramas conceituais e instrumentalizar a reflexão.
Melancolia como tema catalizador desses temas aparentemente díspares, todos centralizados em dois signos: filmes e cidades.
A melancolia das tardes/noites de pequenas cidades  do interior do Brasil.
São histórias particulares mas que espelham um desabrochar de apreensões que teimam em se apresentar em flaxes, mas que nos alertam e desfiguram um sentimento quase poético de desânimo.
Algo que pouco a pouco vai sendo armazenado no inconsciente e que devagar ocupa espaço em nossas  mentes.
A tristeza de um fim de rua, quase sem iluminação - o que virá após o fim da rua? o que se esconde atrás dessa esquina? na imagem dos últimos lampiões, das quebradas que vão dar no desconhecido.
Portanto vamos tentar entender a melancolia analisando, como figura de retórica, seus reflexos quando lembramos fatos que nos tocaram em filmes significativos e personalidade única de algumas cidades.
Istambul -
Do livro de Orhan Pamuk:
Husum a palavra turca para melancolia tem raiz árabe. Husum umbilicalmente ligada ao habitante de Istambul.
Para o sufismo a husum é a angústia espiritual que sentimos pela impossibilidade de nos aproximarmos ainda mais de Alá, por não termos como fazer o bastante por Alá nesse mundo.
Além disso, o que lhe traz sofrimento, é a ausência, e não a presença, de husum.
É a incapacidade de sentir a husum que o leva a senti-la.
Ele sofre por não sofrer o bastante. Para compreender a importância central da husum como conceito cultural que fala do fracasso terreno, da incapacidade de reagir e do sofrimento espiritual, não basta examinar a história da palavra e da posição honrosa que os turcos a ela atribuem. Husum é a "dor negra, elencando entre as suas causas possíveis o medo da morte, o amor, a derrota, as más ações e uma dúvida quanto ao futuro imediato.
De modo que a husum se origina da mesma paixão negra da melancolia, cuja etmologia se  refere a uma visão baseada nos humores.

Filme "A Grande Beleza -
Que transmite em Roma que o sentido é fútil, que lá não é possivel encontrar um real significado para a vida. Roma é uma das cidades mais belas do mundo, feita por italianos do passado.
Hoje não é possível replicar essa beleza. O contraste entre a beleza da cidade e da falta de beleza das pessoas é motivo de reflexão, motivando uma percepção melancólica do que foi perdido, e que sente em Roma que o sentido da vida é fútil, que lá não é possível encontrar um real significado para a existência.

Filme "Melancolia" de Lars von Trier.
Retrata uma tristeza opressiva , sem solução, um sentimento de desânimo e de conformação obrigatória com um destino inexorável de fim de mundo, como um manto agourento e pérfido a pairar agressivo sobre o mundo.

Já no Brasil temos a melancolia à brasileira - "este quebranto nosso, é um exercício da lucidez temperada pela esperança".
O Rio de Janeiro -
Como dizia Proust "deixem as mulheres bonitas para os homens sem imaginação".
Abstraia um pouco a beleza e siga a recomendação de Mário Quintana que dizia:
----Gosto muito do Rio, mas gosto mais dos túneis do Rio, pois ao atravessá-lo, oculta-se, por um instante, a sua paisagem.
Mas atrás da beleza e da badalada possível alegria e descontração do carioca, quem tem "olhos de ver" sentirá - o que pode ser extrapolado para o resto do Brasil - um sentimento que é preciso esconder, camuflar, uma real apreensão, o sentimento que algo está faltando e que as peças teimam em não se encaixar e a falta de vontade de compreender, reflete um anseio por transcendência, que engloba acontecimentos ainda não completamente esclarecidos.

"Há mais lucidez na dúvida honesta do que na crença dogmática. A dúvida é a mãe da reflexão. Da crença não nasce senão o amém".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS

Explicações necessárias

Acredito que o título "causos corporativos" nada mais é do que a embalagem adulcarada e/ou esperançosa e otimista do relato de uma vida.
É necessário compreender que não obedece cronograma de fases específicas, o que seria uma auto-biografia, mas sim lembranças difusas de épocas de existência que se apresentaram trazidas pela memória e acalentadas pela emoção de revive-las. Estas experiências se passaram fora de época e são narradas dentro da atemporidade, no aprendizado da convivência, do respeito, da escuta, do diálogo, permitindo-nos ser, não apenas estar.
Reflete tambem a constatação de desânimo e impotência com os atuais problemas que afetam a humanidade (a sociedade). Completa exaustão com os desencontros e falências do bom senso na condução da concordia entre os homens.
Uma ansiedade traduzida em clamor surdo, uma intuição global de ruptura, de quebra de paradigmas, a evolução não linear e contínua da história que se dá por meio da saltos e de rupturas e portanto de forma abrupta e inesperada. Falência da ética, dos valores, dos princípios e ao mesmo tempo a ascenção das novas tecnologias que nos tiranizam, bem como a prevalência da ciência sobre o espírito.
Preocupa-nos sobremaneira a intuição que estamos no limiar de um novo capitalismo.
Não podemos fugir de um duelo inevitável que a encruzilhada da história nos obriga a enfrentar. Hoje convivemos com realidades antagônicas, díspares que nos leva a reformular conceitos e aceitar o "solavanco" poderoso de um novo pensar.
Poderoso por ser ainda desconhecido, que se apresenta nebuloso, etéreo, virtual.
Para conhece-lo ou tentar, ao menos, levantar um pouco a névoa que o envolve, é necessário usar ao máximo sensibilidade e nossa intuição, ouvindo e aprendendo com os surpreendentes anseios e desejos da nova sociedade.
Nosso conhecimento hoje é deficitário e se assemelha a vetores perdulários a se extinguir no infinito. Precisamos nos conectar e captar esses sinais, aperfeiçoando nossos sensores.
O eterno ciclo do reinício, página virada, outra se inicia. Aí se configura o sentimento o sentimento de que cada incognita, cada ator social, conseguiu imprimir a sua assinatura num capítulo da história, e que os dias, meses e anos passaram a andar porque foram movidos por uma vontade coletiva.
São momentos de explosão comunitária, de emoção indiscritível e quando elas acontecem os consensos formados no tecido social tem conteúdo positivo - a construção do novo.
Segundo Erik Hobsbawn " a esperança e a previsão embora inseparáveis não são a mesma coisa, e toda previsão sobre o mundo real, tem que repousar em algum tipo de referência sobre o futuro, a partir daquilo que aconteceu no passado, ou seja, a partir da História".

Depois de muitas mudanças que contrariaram nossas expectativas, vimos que a História era mais astuta e inventiva do que pensamos.
 Por isso chegou-se a uma conclusão que vai ao encontro da afirmação de John M. Keines: "O inevitável não acontece nunca, o inesperado sempre".
Estamos no limiar de uma nova forma de capitalismo?
Convivemos com um capitalismo que se tornou refém do "estabilichment" financeiro, sugador implacável dos recursos oriundos da prática e das trocas do capital - esta bruma espessa impede que se visualize novos caminhos alternativos.
Jung preconizou estas reviravoltas, propondo que as possíveis mudanças adveriam de "coincidências significativas. A elas poderíamos associar a admirável frase de Jacques Riviere aplicada às civilizações e seus momentos históricos: "Acontece a um homem, não o que ele merece, mas o que lhe assemelha".
É lamentável que o historiador entenda como indigno da sua ciência a ressenciamento e o exame dessas coincidências que tem um sentido e entreabem bruscamente uma porta para outra face do Universo, onde o tempo já não é linear. A sua ciência está em atraso sobre as teorias modernas, que, tanto no estudo do homem, como no da matéria, nos mostra, cada vez mais reduzidas as distâncias entre passado e futuro.
Separa-nos sebes cada vez mais estreitas no jardim do destino, de um passado conservado por inteiro e de um amanhã inteiramente formado. A nossa vida está aberta para grandes espaços".
Temos que ter extremo cuidado com os maniqueísmos  que não veem nuances e complexidades.
Será que a partir da economia é que teremos um novo pensar?
Ou será o contrário, isto é, a partir de um novo pensar, vamos estruturar um novo modelo econômico de desenvolvimento.
Acredito nesse novo pensar, calcado fundamentalmente no ser humano, valorizando o que hoje desprezamos e catalogamos de surpérfluo - o ócio, o silêncio o desenvolvimento do espírito mágico, o plano da intuição poética, o plano da inteligência pura. Estabelecer comunicação entre eles, verificar por comparação as verdades contidas em cada fase e fazer finalmente surgir uma hipótese na qual se achem interligadas essas verdades, formando um intelecto geral (conhecimento e cooperação social).
Ela depende da convergência de uma massa crítica contundente, com um projeto que ordene o passo seguinte do desenvolvimento.
Mas o gigantismo dos interesses do capitalismo não pode ser subestimado e combatido só com boas intenções das soluções simplistas.
O que move a democracia é a lógica das "inclusões sucessivas" que ocorrem a medida em que grupos minoritários vão se organizando e ganhando voz através de suas contribuições, expondo suas experiências particulares - alargamento de conceitos.
E essa vanguarda que representa o novo.
Uma transformação solitária não inventará práticas completamente novas. Ela desenvolverá o que muitas vezes aparecem em germe, mas não pode frutificar por ter nascido em solo árido, como um "ponto fora da curva", ou em uma situação que não conseguiu durar.
Aumentar o número de pontos fora da curva é uma boa forma de dar mais força a um futuro que será atacado por todos os lados, que terá a fragilidade do inesperado e do improvável.
Procurar sempre estes pontos fora da curva e imaginar que a sua consolidação vai certamente produzir modelos.
O nome da crise é a riqueza que não reparte. Não apenas o patrimônio acumulado, mas sobretudo as estruturas que as realimentam e a protegem com salvaguardas intransponíveis.
A riqueza que não reparte é antologicamente avessa à construção de um destino compartilhado. Por mais que se dissimule o rosto da sabotagem, seu rastro planetário deixa as marcas da soberba autoreferente que se avoca igualmente apátrida e auto-regulável.
O futuro próximo da economia global tenderá a um estado em que apenas 20% da força de trabalho será capaz de fazer todo o trabalho necessário, de modo que 80% das pessoas, irrelevantes e inúteis e portanto potencialmente desempregadas. Um sistema que torna 80% das pessoas irrelevantes e inúteis não será ele mesmo irrelevante e inútil?
Se continuarmos nesse estágio de extasia atual chegaremos a este patamar num futuro próximo.
É bom lembrar que pensadores como Andre Gorz  e Robert kurs(?) como profetas já começavam a preconizar este futuro dizendo: "a produtividade da força de trabalho pós-fordista não depende mais da celeridade com a qual sujeitos executam tarefas prescritas. Ela depende de um conjunto de faculdades "cognitivas", de saberes intuitivos, da capacidade de julgar e de reagir ao imprevisto - coisas que não se ensinam, mas que evidenciam o desabrochar das pessoas.
Pagar apenas o tempo de trabalho imediato é injusto. O capital pretende apropriar-se gratuitamente das capacidades e dos saberes que os indivíduos desenvolvem fora do trabalho.
Rearticulação da relação entre valor, capital e saber, a partir do momento em que o valor não for mais diretamente vinculado à posse dos meios de produção, e mais ao saber "imaterial" que só pode ser sintetizado por um tempo livre para aprimorar-se em esferas ampliadas de iinteração social.
"Imaterial"= Capital cognitivo. Será a senha para a crise do capitalismo.
Hoje esta possibilidade passou a ser real com o intelecto geral privatizado - milhões de trabalhadores intelectuais não se separam mais das condições objetivas de seu trabalho (possuem seus próprios computadores).
"Nós somos aqueles por quem estávamos esperando".
Como os trabalhadores cognitivos vão eliminar os chefes, porque o controle corporativo sobre o trabalho cognitivo está completamente ultrapassado.
O que os novos movimentos sociais assinalam, é que a época do salário acabou e passamos do confronto entre trabalho e capital referente ao salário, para o confronto entre a multidão e o Estado referente à instauração da renda do cidadão.
A criatividade não é mais individual, mas imediatamente coletivizada, faz parte das "áreas comuns", de modo que qualquer tentativa de privatiza-lo, por "copyright" se torna problemática. Microsoft que faz exatamente isso, organiza e explora a sinergia coletiva de singularidades cognitivas criativas.
O descolar de um pensamento ortodoxo e conservador faz com que como num preambulo do imaterial ou cognitivo, nos deparemos com o inusitado, convivendo com termas nunca pensados como "circulos concêntricos ou ciclos de Nicolai Kordratiev, ou estágios que se findam e anunciam um novo período.
A passagem da inteligência do estado binário para o estado analógico, a passagem da sua consciência do estado ordinário para o estado de vigilância superior.(O observador).
Ele aguarda que a máquina comece a trabalhar analogicamente, que se produzam, no domínio silencioso do seu cérebro, conexões ultra-rápidas que lhe revelarão a realidade total da coisa apresentada.
"O pouco que vemos é devido ao pouco que somos".
Procurar desenvolver disciplinas heterodoxas e não convencionais como semióforos que se  apresentam sutis, misteriosos, imaginativos e principalmente ousados.
É evidente que a solução não se apresentará límpida e completa como um "insigt", mas nos dará mais subsídios para continuarmos propondo.
Usar a formula Beckettiana de visualizar um problema:
"Tente de novo, erre de novo, erre melhor".
Em termos Kierkegaardianos o progresso revolucionário não envolve um progresso gradual, mas um movimento repetitivo, um movimento de repetir o princípio várias vezes.
Acredito que as transformações se apresentam quase sempre como evidências camufladas, cujos indicadores são os sinais, os acasos, as coincidências, normalmente desprezadas por nós.
Ouso propor que pensemos nos ciclos, mais especificamente "ciclos de Kordratiev" como estágios que se findam e anunciam um novo período.
O eterno renovar, perspectivas cumulativas de experiências e vivencias enriquecedoras que procura pontos centrais que deflagam processos.
Um ciclo de vida, individual, por exemplo, só se configura real dentro de mudanças de ciclos em níveis que lhe são correlatos - ciclos familiares, empresariais, políticos e tambem universais.
Quando as pessoas presentem de forma vaidosa que estão sob a influência de um novo ciclo, não entendem que isto é o extremo final de um processo acumulativo de experiências que envolve um sistema macro de decisões.
Em consequência desse  raciocínio é obrigatório  ligar com os "Circulos Convergentes" - aqueles formados quando se atira uma pedra num lago tranquilo. Começa-se a formar, primeiro círculos grandes e prosseguindo com os impactos, forma-se círculos médios e pequenos - e todos vão se aproximando e se misturando, criando, metaforicamente um conjunto novo e surpreendente de novas concepções de mudanças.
Analisar que embora de forma ainda embrionária e um pouco confusa a humanidade como um todo - massa crítica - percebe de forma intuitiva, não convencional, a evolução que vai originar a transformação do capitalismo, como é visto na atualidade.
O capitalismo nos faz dosar nosso libido (ou força pessoal) e os torna hábitos, gasto de energia.
Não esquecer tambem de valorizar o que os alemães chamam de "Zeitgeist", o espírito do tempo, ou seja, tudo acontece em seu tempo certo.
Vivemos no sistema mundo capitalista denominado etapas economicas de movimentos cíclicos de ondas largas.
Se a teoria dos ciclos é correta então temos nos dias atuais, nenhuma crise terminal, mas apenas fases onde o sistema busca se reequilibrar sob bases diferentes do neo-liberalismo dos últimos 30 anos.
É possível tambem entender esta angustia quase palpavel, uma intuição que se revela quase verdadeira de mudanças estruturais na sociedade quando a associamos, por exemplo, com que pensava  Hipocrates (pai da medicina).
"Paroxismo Morbido", o instante  em que se declaram nitidamente os sintomas da moléstia, permitindo o diagnóstico e o prognóstico.
Na vida das civilizações é tambem possível discernir certas alterações significativas na estrutura social, que engloba, no mesmo sistema mentalidades, organizações de poder e condições espaciais, ou tecnológicas de base.
Como no caso de organismos vivos, tais alterações costumam significar a passagem de uma fase de vida para outra, ou seja, uma sucessão de épocas históricas.
É prudente que encaremos com coragem esta fase de "Paroxismo Mórbido", recolhendo com humildade os ensinamentos que desprezamos, por inércia ou preconceito visando nos fortalecer co novos conceitos para assimilar, deglutir e metabolizar esta configuração nada otimista, para daí então propor soluções inovadoras - é preciso enfatizar o novo e não a novidade.
O que esta fase nos alerta é que o paciente (a sociedade) atingiu um estágio preocupante e que providencias\ drásticas precisam ser tomadas.
"Não há nada tão poderoso quanto a idéia cujo tempo chegou"  - VIctor Hugo.
Talvez o novo sempre tenha algo de primitivo. Mas o que se instaura nessa fase não é o primitivo selvagem. É um primitivo doce, quase infantil, que sobrevive nos pontos mortos e nas horas vagas, quando as máquinas assumissem todas as tarefas, as hierarquias de valores vão se inverter.
Tudo aquilo que é irrelevante, passará a ser fundamental, porque é a outra face da vida, que o trabalho não contempla.
"Vale tudo aquilo que é para nada".
Manifestações paralelas devem obrigatoriamente ser lembradas.
O combate entre ideia e matéria está no centro da obra de Hersog: Fitzcarrardo flerta com o impossível, vira desejo em destino e recebe os contra golpes da matéria por te-la agredido rudemente com a ideia. Para Sartre cada situação (essa nossa, por exemplo) é uma ratoeira. Há muros por todos os lados - na verdade não há saidas a escolher. Uma saída é algo que se inventa. E a cada um, inventando a sua saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia.
Gostaria de espairecer um pouco e terminar citando Umberto Eco: sobre a Paródia:
..."estudiosos de várias disciplinas, para desafiar com justificadas suspeitas as coisas que vez por outra são feitas a sério. O que muito me conforta, porque uma das primeiras e mais nobres funções das coisas pouco sérias é a de lançar uma sombra de desconfiança sobre as coisas demasiado sérias - e tal é a função da Paródia.
Porque este é o destino da Paródia: ela não deve jamais temer o exagero.
Se acertar no alvo, não fará mais do que prefigurar algo que, mais tarde, outros farão sem rir - e sem enrubecer - com firme e viril seriedade.



domingo, 17 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS


Exportação -

Vemos com tristeza o fraco desempenho de nossas exportações atingindo  performance ridículas, com números muito aquem daqueles ideais para equilibrar nossa balança comercial.
É forçoso reconhecer que não temos agido no mercado internacional com a devida agressividade que se requer em momento de tamanha competitividade e protecionismo, como o que se afigura no momento.
Não adianta oferecer desculpas esteriotipadas e gastas, sem imaginação como a famosa de que o custo Brasil é o responsável pelo nosso mau desempenho.
Ele pode ser um impedimento a mais no processo, mas seguramente não é o mais importante.
O fundamental, é ter vontade política para vender.
Nossas empresas tem equipes de vendas preparadas para esse desafio? Ou simplesmente saem a procura de negócios sem o devido planejamento e pior, sem a devida garra e vontade de vender que caracteriza o predador  em busca de alimento.
Apatia típica da nossa cultura derrotista e com a síndrome do complexo de inferioridade, legados que nos deixaram as raças que configuraram o homem brasileiro - o homem cordial. Herança ibérica, misto de conformismo com fatalismo.
E a nossa diplomacia comercial?
Nossos diplomatas são verdadeiros "dandis", convivendo com elegância e desenvoltura em festas e efemérides inócuas e estéries oferecendo imagem de homens educados e elegantes, porem fazem questão de não se emiscuirem em qualquer atividade que possa se confundir com vendas.
Exportar é uma verdadeira guerra e o Brasil e seus diplomatas se comportam como a vestal do templo, toda pudica e transpirando inocência.
Estes homens tambem acreditam que é incompatível o convívio espúrio com atividades de venda.
Enquanto isso, nossos inimigos, aguerridos e extremamente agressivos esquecem os salamaleques dos jogos de salão e arregaçam as mangas, defendendo com unhas e dentes as políticas comerciais de seus respectivos países.
Essa análise alem de confessadamente pretensiosa e institucional, cabe perfeitamente quando configurado em nossa própria empresa da época onde o departamento de exportação primava por sua performance medíocre, não colaborando em nada para o aumento de nossos negócios com o exterior.
Já no inicio, nos primórdios, desde o anúncio dos integrantes desse departamento já era possível prever sua ineficácia.
E como diz a lei de Murphy: "Da onde menos se espera, daí que não sai nada mesmo".
Eram dois senhores que já tinham passagens por outros setores em cargos diferentes e em nenhum deles obtiveram sucesso.
Mas eram elegantes e de fino trato, alem, é claro, de certa proteção da diretoria, nunca explicada.
Voltavam com relatórios impecáveis, minuciosos, com detalhes e aspectos gerais de cada país específico, mas...nenhum resultado prático - vendas zero!!
O inacreditável é que permaneceram por muito tempo exercendo sua incapacidade.
Esses erros somados a outros erros conceituais contribuiram para a derrocada total dessa organização.
A empresa e principalmente a sua Marca não resistiram e simplesmente desapareceram na bruma espessa da história, que não perdoa a incompetência.
Em contra partida e aí já colaborando como consultor de uma grande cerâmica espanhola pude constatar como era primordial em seu plano estratégico incentivar e priorizar política de modernização e otimização do seu departamento de exportação.
Incentivo para a produtividade baseada em estudos que orientavam políticas de exportação vencedoras, visando vender mais e com mais lucratividade.
O folclore, que via de regra, alimenta as várias "estórias" das empresas, narra uma específica e muito significativa própria para essa situação.
Diz a lenda  que determinado profissional designado a atender determinado mercado no exterior, sempre voltava com muitas desculpas e nenhuma ordem de compra.
Dizia sempre:
----Existem muitas perspectivas.
E acada viagem e novos fracassos desculpava-se sempre com o seu velho argumento:
---São muitas as perspectivas.
Cansados dessas evasivas os responsáveis resolveram a situação.
No dia do pagamento, o funcionário recebeu o seu holerite da seguinte forma -
"Vale 5.000 perspectivas!!!
Quem vende realidade ilusória recebe em perspectivas.



CAUSOS CORPORATIVOS

Fechamento do Mês -

Cenário - Industria de matérias primas, subdisiária de multinacional americana.
Como gerente nacional de vendas, meu expediente era dividido entre os escritórios em São Paulo e a fábrica, situada no interior.
Essa vida atribulada se complicou quando o nosso Gerente Geral adoeceu e ficou impossibilitado de trabalhar.
Passei então a acumular todas as responsabilidades da empresa.
A permanência na fábrica ficou mais frequente e como os problemas eram grandes resolvi empreender e consolidar ambiente mais acolhedor e amigo, empreendendo políticas de bom humor e solidariedade, incluindo aí algumas gozações saudáveis.
O nosso químico era um cidadão carrancudo, reservado, digno representante do interiorano que de maneira carinhosa passamos a chamar "caipira" - respeitando sempre a sua sabedoria silenciosa.
A ele eram, via de regra, reservadas as nossas "pegadinhas".
Determinado dia em conversa informal, tomando um cafezinho, coloquei no bolso da minha calça um guardanapo de pano na região dos orgãos genitais. Apetando o volume formado, proclamei envaidecido o tamanho grandioso do meu penis.
Foi uma risada geral e provocou um choque no nosso químico que imediatamente, entre perplexo e inacreditavelmente crédulo exclamou:
----Seu Fernando!!!
Era preciso tambem lidar com irreverência situações mais preocupantes, como por exemplo, os dias de fechamento de mês.
Recebia constantemente telefonemas dos responsáveis pela consolidação do faturamento do grupo como um todo.
E a cada telefonema, já tarde da noite, havia um pedido para arranjarmos, de qualquer maneira, mais e mais ordens de embarque, visando atingir o número consolidado.
Como era de se esperar e a cada novo pedido de superação eu ficava mais nervoso, e para descarregar minha ansiedade saia e andava na beira de um pequeno lago existente ali mesmo do lado do escritório e gritava a todo pulmão, espantando os gansos já quase adormecidos:
----Puta que o pariu! Puta que o pariu!, daqui a pouco vou me fantasiar de produto e vou me faturar eu mesmo.
Foda-se este número programado e irreal e foda-se o meu comprometimento com essa mentira.
Depois desse extravazamento mercurial, voltava para dentro e com calma me preparava para voltar para casa.
CAUSOS CORPORATIVOS


Quem Sobe Muito... -

Empresa multinacional americana ainda com a síndrome de não entender o Brasil, e trazer constantemente, presidentes e diretores americanos para gerir a empresa.
Só conseguiram fracassos!
Então esse ambiente conturbado e cheio de incertezas germinou uma cultura atípica de valorização do medíocre.
Portanto as promoções eram dadas àqueles que sabiam conviver com o puxa saquismo e a subserviência.
O medíocre se cerca de medíocre!
Está claro tambem que devido ao fraco desempenho e baixo rendimento esses alpinistas corporativos, não resistiam e eram defenestrados rapidamente.
Cultivou-se o hábito de entender que quem está subindo na hierarquia com muita rapidez será o próximo a receber o "bilhete azul" - a demissão.
A "cultura do corredor", ou seja, a fofoca era pródiga em maldades ao analisar cada promoção indevida.
Dizia que o escolhido, da ocasião, quando assumia, já estava com um rojão enterrado no rabo, e que os sádicos passavam pela porta da sua sala a todo momento com uma vela acesa na mão.
Ra Tim Bum!!!!